Brasil - Cadeirante conquista escritura da casa após 14 anos

Ter o documento oficial de posse fez com que o morador de Nova Xavantina se sentisse mais cidadão e capaz de alçar novos voos João da Silva Borges, 49 anos, gravou na memória todos os detalhes referentes à conquista da casa própria, desde quando foi sorteado até quando conquistou o título definitivo, dois meses atrás. 

Entre o recebimento da chave e a entrega da escritura foram 14 anos, aguardados com muita expectativa pelo rapaz, que é cadeirante, mora sozinho e faz todos os serviços domésticos, mesmo com as limitações de mobilidade. 

 Na opinião dele, mais que paredes e tijolos, uma casa representa a liberdade de poder fazer o que quiser e de se sentir cidadão. “Este simples papelzinho mudou a minha vida. 

Agora, eu sei que é minha e posso fazer o que eu quero. 

Agora, eu sei que sou capaz e me considero um cidadão normal apensar da minha deficiência. Não sou deficiente, sou um lutador”.



A paralisia de João começou aos 5 meses de idade após uma convulsão. 

Ele conta que morava na fazenda e a família dele não tinha condições de procurar assistência médica, o que gerou sequelas irreversíveis. 

O mecanismo de fala foi afetado e os movimentos das pernas ficaram praticamente inexistentes, enquanto os braços tiveram algumas limitações. 

 Por esse motivo, a escola o aceitou apenas aos 11 anos, idade em que conseguiu, por meio de doações, a primeira cadeira de rodas. 

“Eles achavam que eu não tinha capacidade, não entendiam que a doença não atingiu o cérebro. Eu podia aprender com os demais”.

 Mesmo com a cadeira, João precisou abandonar a escola antes de concluir o ensino fundamental porque naquela época, os professores alegavam que não tinham condições de ensinar pessoas com deficiência e que era necessário um profissional particular. 

Isto frustrou temporariamente as pretensões educacionais de João, que retornou ao banco de escola apenas na adolescência, quando se mudou para a cidade com a família.


Fora de casa, barreiras arquitetônicas dificultavam a rotina dele e dentro de casa, os obstáculos já estavam dominados.

 Como faz até hoje, da porta para dentro, ele abandona a cadeira, que atualmente é elétrica, e usa dois pedaços de madeira calçados com borracha para cozinhar, lavar louça e roupa.

 O utensilio serve de apoio para as mãos, enquanto ele se arrasta pelo chão.

Após manter mais de 35 anos este processo, o resultado são os joelhos notoriamente calejados.

Os visitantes não habituais costumam mostrar-se impressionados com a situação, mas na tentativa de minimizar o impacto, João sempre fala:

“Não precisa se preocupar. Eu estou acostumado a fazer tudo. É normal”.

 A nova casa – João procurou a prefeitura para se candidatar a uma casa porque estava morando de aluguel.

Ele teve que se mudar da casa da família quando a mãe faleceu. “Meu pai começou a beber muito, queria ter uma nova mulher e dizia que eu estava atrapalhando tudo”.

 Antes de ter a ajuda de amigos para conseguir um espaço que pudesse pagar, foi vítima de situações de violência.

“Ele colocava a comida em lugares altos para eu não alcançar e uma vez, acordei com ele colocando o travesseiro na minha cara para me matar”. Para reduzir o tempo em casa, João se inscreveu em vários cursos na escola, entre eles computação, marcenaria e trabalhos manuais.

Durante as aulas, os instrutores acompanharam a realidade dele e o ajudaram a mudar de casa.

 Em seguida, amigos o avisaram que seriam selecionadas pessoas para morar em um novo residencial.

 No mesmo dia que ficou sabendo que seria contemplado, ele pegou os poucos objetos pessoais que tinha, prendeu na cadeira de rodas manual e seguiu para ocupação da casa.

“Não tinha água e nem luz aqui ainda. Mas, eu não queria perder nem um dia”. Desde que mudou, ele vai à prefeitura para conseguir a escritura.

“Eu tinha medo de perder e muitas vezes pensei que nunca conseguiria.

Às vezes, deixava de fazer uma melhoria na casa com medo de tomarem a casa de mim”.

 A escritura da casa foi entregue há dois meses e oficializa a primeira propriedade conquistada por ele. “Eu não quero sair mais daqui. Agora, tenho minha casa, pago as minhas contas e sou um cidadão. Este papelzinho é muito para mim, que não tinha nem um chapéu para por na cabeça”. Dados O governo do Estado prevê a entrega de títulos urbanos para aproximadamente 54 mil pessoas em Mato Grosso. Elas são moradoras de conjuntos residenciais construídos pelo governo, por meio do Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab) ou pela extinta Cohab.

O programa funciona em parceria com as prefeituras.

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