Guiné-Bissau: Bebé que sobreviveu a rebentamento de mina recebe tratamento em Lisboa

Um bebé de 23 meses que sobreviveu ao rebentamento de uma mina na Guiné-Bissau partiu hoje para Portugal, onde vai receber tratamento que não existe em território guineense, explicou à Lusa o médico que o acompanha na viagem. Nildo N'Tchalme era o passageiro mais novo de um furgão de transporte público que explodiu na sexta-feira no interior da Guiné-Bissau provocando 23 mortos e vários feridos. A mãe e um tio continuam internados no Hospital Simão Mendes, em Bissau, após o desastre que levou o governo a decretar dois dias de luto nacional, assinalados no domingo e segunda-feira.

 

A criança não tem ferimentos exteriores, mas sofreu um traumatismo craniano e os médicos receiam que haja danos internos impossíveis de diagnosticar por falta de aparelhos de Tomografia Axial Computorizada (TAC), explicou o cirurgião Augusto Blute.

"Em Portugal poderá fazer o exame e ser observado por neurocirurgiões", referiu hoje no Aeroporto Osvaldo Vieira, minutos antes de ambos partirem para Dacar, pelas 11:30.

Na capital do Senegal vão esperar até cerca da 01:00 da madrugada de quinta-feira por um voo da TAP no qual devem chegar a Lisboa pelas 06:00 - os voos diretos para Bissau só serão retomados a 26 de outubro e entretanto as alternativas obrigam a escalas demoradas.

Na sequência do desastre de sexta-feira, o caso de Nildo foi o único para o qual as autoridades de Bissau pediram apoio à embaixada portuguesa.

O tratamento da criança é feito ao abrigo da cooperação na área da Saúde entre a Guiné-Bissau e Portugal, sem custos para a família, sendo este um caso especial por de tratar de um bebé e pelo facto de o apoio se estender também à prestação de cuidados de transporte, explicou fonte diplomática portuguesa em Bissau.

 Augusto Blute espera que mais nenhum dos cinco feridos no acidente que continuam internados no Hospital Simão Mendes necessite de ser enviado para fora do país.

O único ferido grave que ainda podia inspirar cuidados, com uma fratura num fémur e ao qual foi diagnosticado tétano, "acabou por falecer" na terça-feira, acrescentou.

O cirurgião acredita que Nildo acabará por regressar bem à Guiné-Bissau, depois de ser admitido no Hospital de Santa Maria. "Ele não consegue dormir", contou à Lusa, Maria N'Tchalme, tia que tomou conta do bebé no hospital e até à entrada no avião.

 "Às vezes acalma-se, mas depois chora muito. De poucos em poucos minutos está sempre a chorar", lamentou, confiante de que em Portugal será encontrada "uma solução" para eventuais problemas.

"Para nós está claro, aqui em Bissau não há solução", acrescentou Jorge N'Tchalme, tio da criança. Nas operações de apoio ao transporte do bebé participou também o Gabinete Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da Paz na Guiné-Bissau (UNIOGBIS).

 Um furgão de transporte coletivo explodiu na sexta-feira quando circulava entre as povoação de Bissorã e Cheia com cerca de 40 pessoas, quase todas pertencentes à mesma família, que se deslocavam para uma cerimónia fúnebre.

 De acordo com as autoridades, o condutor ativou uma mina antitanque usada pelas forças guineenses na guerra da independência, há mais de 40 anos.

O governo decidiu criar uma comissão de inquérito liderada pela ministra da Justiça para averiguar as circunstâncias do acidente e decidir sobre eventuais medidas a tomar no terreno face ao risco de haver outros engenhos explosivos na zona. Em 2013, um dispositivo semelhante foi desarmado por militares a poucos metros do local do acidente.

 Fonte: Veja Aqui

Comentários