Em Angola, Pessoas com deficiência visual pedem mais atenção

O presidente da Associação Nacional de Apoio aos Deficientes Visuais (ANADV), Manuel Tiago, disse ao Jornal de Angola que o Executivo deve criar mais políticas de apoio àquela comunidade para os seus direitos serem melhor reconhecidos pela sociedade. A ANADV, afirmou, reconhece os apoios do Executivo, mas gostava que houvesse mais empenho na execução de projectos que dignifiquem as pessoas com deficiência visual.

  Maria Kassinda, 45 anos, natural do Bié, deixou de ver em 1983 ao ter accionado uma mina anti pessoal. Sem meios de subsistência, mendiga pelas ruas de Luanda o pão que come e reparte com os filhos, um dos quais, uma rapariga, lhe serve de cajado. “Não tenho marido e as poucas ajudas que recebo de entidades de caridade não chegam para resolver os meus problemas”, lamenta, enquanto caminha pela avenida Ho Chi Minh, onde diariamente este a mão. Armando Cunjuca também é deficiente visual. Veio do Moxico e vive há dez anos no bairro dos Ossos, Sambizanga. Recorda que “é difícil e triste” ser cego. Recebe alguns apoios da Associação dos Jovens Angolanos Provenientes da Zâmbia (AJAPRZ) e de outras associações, mas salienta a importância de serem criadas condições que atenuem os problemas dos que “têm a infelicidade de não ver”. “As associações não estão em condições de resolver todos problema que temos e o Executivo devia prestar-nos ainda mais atenção”, declarou. A solução destes e de outros problemas, sugeriu o presidente da ANADAV, passa pela aplicação de projectos que melhorem as condições de vida das pessoas com deficiência visual.  

Construção de um pavilhão

  Um dos projectos em carteira é a construção de um espaço para os associados que funcione como centro de formação profissional e onde os cegos possam aprender carpintaria, marcenaria e outros ofícios que lhes permitam enquadrar-se na sociedade. “Com formação profissional os cegos têm possibilidades de montarem negócios próprios e ganharem dinheiro para as necessidades do dia-a-dia”, salientou Manuel Tiago. A ANADAV, referiu, aguarda pela cedência de um terreno para a construção do centro em Luanda. A ANADAV já tem um terreno em Benguela, no bairro do Casseque, onde vai construir um centro. A ANADV tenciona concretizar, já este ano, um projecto de alfabetização em Braille extensivo a várias províncias e em conformidade com as recomendações da organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura “UNESCO”. A associação, afirmou o seu presidente, dispõe de um terreno de seis hectares, onde pretende instalar um centro de reabilitação e uma unidade agrícola para os deficientes visuais trabalharem No centro de reabilitação, anunciou, os deficientes, principalmente os que deixaram de ver já tarde, podem aprender a locomover-se, mas também e escrever e a ler em Braille. A criação de pequenas unidades de prestação de serviços e de produção que empregue deficientes visuais é outro objectivo da ANADAV, que permite também criar receitas que garantam a viabilidade dos projectos que associação prevê desenvolver este ano. O presidente da ANADV anunciou que outro objectivo “é tornar a associação numa verdadeira agência de prestação de serviços” e que adquiriu no projecto Quicuxi um terreno para agropecuária “que certamente vai minimizar as grandes carências dos associados”. A associação também adquiriu um armazém em Luanda, na zona da Mabor, onde tenciona promover várias actividades que permitam obter receitas e quer criar um departamento de venda de bengalas, lupas, papel para escrita em Braille, réguas, pautas e outros materiais para deficientes visuais a preços módicos.

  Bengala branca

 Manuel Tiago afirmou que o Executivo devia importar bengalas brancas para deficientes visuais, “indispensáveis para a locomoção” e para “levantar a auto estima”. Os deficientes visuais ao usarem a bengala, referiu, sentem-se mais seguros, por exemplo, a atravessar ruas, subir ou descer escadas ou a andar no interior de instituições por serem facilmente identificados. Sobre o apoio da sociedade civil na integração das pessoas com deficiência visual, lamentou que ainda não seja o ideal “por desconhecimento de algumas pessoas sobre os direitos que elas têm”. A ANADV, disse, tem promovido campanhas de sensibilização, palestras e debates públicos destinados a esclarecer à população sobre os direitos e deveres dos cegos. “A pessoa com deficiência visual pode perfeitamente estar integrado na sociedade como qualquer outra”, realçou. Manuel Tiago disse que as pessoas com deficiência visual precisam que as ajudem a atravessar as ruas, que os automobilistas lhes dêem dê prioridade, tal como nos autocarros e nos serviços públicos.

  Historial

A ANADV, membro da Federação Angolana das Pessoas com Deficiência, é uma organização não-governamental fundada em 1989 em Luanda para incrementar no país a sensibilização de pessoas interessadas no progresso social, cultural, educacional, religiosa e económica dos cegos e deficientes visuais. Melhorar as condições de vida das pessoas cegas e deficientes visuais a nível nacional, prevenir a cegueira, incentivar o debate acerca do melhoramento da visão e favorecer a integração de todas as pessoas cegas e com deficiência visual na sociedade angolana são alguns dos objectivos principais da associação.
 

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