Entrevista da Associação Salvador á Susana Barroso Irá Representar Portugal nos Paralímpicos de Londres 2012


Susana Barroso irá representar Portugal, na modalidade de Boccia, nos Jogos Paralímpicos de Londres 2012, que irão decorrer entre 29 de Agosto e 9 de Setembro.
Associação Salvador (AS): Como começou a tua carreira desportiva na natação?
Susana Barroso (SB): Comecei na natação por concelho médico aos 10 anos de idade. Aos 17 anos surge a hipótese de integrar a seleção nacional de natação. Fui bem recebida, como uma das melhores atletas do mundo. Sendo nesta altura já recordista nacional nos 50m costas, 100m costas, 50m livres, 100m livres, fui selecionada para representar Portugal no campeonato da Europa em Barcelona. Foi uma experiência muito enriquecedora, fiquei em 3º lugar, medalha de bronze.
AS: Ganhaste 21 medalhas na modalidade de natação, e és a atleta paralímpica feminina mais medalhada em Portugal. Quanto tempo estiveste ligado à Natação e quais foram os momentos mais marcantes neste teu percurso?

SR: Estive 15 anos a representar Portugal como nadadora.
Os meus primeiros jogos paralímpicos foram uma das melhores experiências vividas, uma loucura, entrar num estádio olímpico completamente lotado, nem sabia o que dizer, para onde olhar com tantas cores, um espetáculo lindo, a música "amigos para sempre" de António Carreras, tudo marcou e as lágrimas caiam.
No Campeonato do Mundo em Malta alcancei três medalhas de ouro e três recordes Mundo, pela primeira vez ouvi cantar o hino nacional, e por três vezes, o que é uma sensação indescritível. É uma alegria enorme, de dever cumprido, que todos os "sacrifícios", esforços foram compensados, que valeu a pena levantar-me às 6h da manhã, e passar por treinos dolorosos.
Nos Jogos Paralímpicos de Atenas, em 2004, foi com surpresa que recebi a notícia de que ia ser a porta-estandarte de Portugal no desfile de abertura dos Jogos de Atenas. Representar o país e todos os outros atletas foi, ao mesmo tempo, uma imensa responsabilidade e um orgulho enorme. Foi, também, o reconhecimento da dedicação ao desporto e ao movimento paralímpico de Portugal. Tentei representar da melhor forma o país e os atletas e mostrar o espírito de lutadores e vencedores.
AS: Em 2005 deixaste a natação, porquê?
SB: Após alguns meses de reflexão, tomei a difícil decisão, de por fim à minha carreira de nadadora. Ao fim de 15 anos ao mais alto nível, é sem dúvida para qualquer atleta uma sensação de perca. Decidi abandonar apenas por cansaço físico e psicológico.
AS: Agora voltas a representar Portugal nos jogos paralímpicos no Boccia? Como surgiu esta oportunidade de praticares Boccia?
SB: No final do ano de 2006, voltei ao desporto, aquele bichinho continuava cá, nasceu comigo. Experimentei outra modalidade, o Boccia. Adaptei-me bem nesta nova modalidade, também com bons resultados. Fui chamada à seleção mais uma vez. Em Maio de 2007 convocaram-me para participar no campeonato do mundo em Vancouver no Canadá. Resultado, medalha de prata em pares.
AS: Podes explicar-nos em que consiste esta modalidade?

SB: Boccia é um jogo de pavilhão que pode ser jogado em singulares ou em equipas de dois ou três jogadores. O campo de jogo tem 12,5 metros de comprimento por 6 de largura.
Cada jogador ou equipa possui 6 bolas, as vermelhas pertencem a uma equipa e as azuis à equipa contrária. Existe ainda uma bola branca, que é a bola-alvo, e que é atirada, à vez, por cada uma das equipas, seguindo-se as bolas de cor.
O objetivo é lançar as bolas de cor o mais próximo possível da bola branca. Cada jogo possui quatro "sets" nos jogos de singulares e seis "sets" nos jogos de equipas. Os pontos contam-se no final de cada "set", sendo atribuído um ponto por cada bola que esteja mais próxima da bola branca.
AS: Como foi a sensação quando soubeste que estavas qualificada para representar Portugal novamente aos jogos Paralímpicos Londres 2012?
SB: Foi uma surpresa, senti novamente uma grande responsabilidade.
AS: Quais são as metas que a tua equipa pretende alcançar?
SB: Vou fazer par com o Domingos Vieira, temos consciência que vai ser difícil mas pretendemos chegar ao pódio. Vamos fazer um jogo de cada vez até que alguém consiga ser melhor que nós. Embora com todas estas dificuldades já apontadas, Portugal ainda consegue ter bons atletas, por isso eu acredito que tudo é possível.
AS: Além de te dedicares à prática desportiva, Sabemos que também tens o teu emprego. Conta-nos como é conciliar uma carreira desportiva tão exigente, com o trabalho?
SB: Na realidade com muita dificuldade! Pois tento não prejudicar a minha entidade patronal, tentando dar sempre o meu melhor e cumprir as regras que são para todos. Sem dúvida que tenho que agradecer à Municipália, E.M. por estar sempre disponível a colaborar com essas dificuldades. Desta forma consigo neste momento treinar 2h por dia. O que na realidade é muito pouco quando se chega a este nível de exigência, mas é o possível neste momento.
AS: Caso nunca tivesse praticado desporto de alta competição sente que seria a mesma Susana?
SB: Com toda a certeza que não! O desporto faz-me sentir bem. Aprendi muito no desporto, na competição. Ajudou-me sem dúvida a crescer, a ser autónoma, a saber ganhar e algumas vezes a saber perder, a felicitar o adversário mesmo quando se perde, a encarar a deficiência de uma forma bastante positiva. A controlar a ansiedade, a pressão, a ser organizada pois o tempo não chegava para tudo. Aprendemos a ver o lado positivo da vida, sentimos que temos objetivos e vamos tentar alcançá-los, independentemente dos obstáculos. Tornamo-nos pessoas muito mais autónomas, muito mais confiantes, muito mais FELIZES!

Fonte: Associação Salvador

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