Entrevista da Associação Salvador á José Augusto Silva Mendes, Gerente da Digital vídeo


José Augusto Mendes Silva tem atualmente 42 anos. Em 1989, teve um acidente de trabalho na sequência do qual ficou com paraplegia. Porém, como o próprio refere, "não gosto de estar parado", por isso, depois do acidente fez um curso de eletrónica, tendo começado a trabalhar em 1994. Em 1997 comprou carro, em 1999 abriu a sua própria empresa, a Digitalvídeo, em 2000 comprou casa e em 2002 casou.
Associação Salvador (AS): Como é o seu dia-a-dia de trabalho, na DigitalVídeo?
José Augusto Mendes Silva (JAMS): Começo a trabalhar às 9h, e o meu trabalho vai desde a gestão dos serviços dos técnicos e apoio a estes, gestão de reparações e material, atender clientes, faturação, e tudo um pouco. Hoje em dia já não tenho tempo de estar à bancada a reparar uma televisão, por exemplo.
AS: Quando criou a sua empresa e como surgiu a ideia de criar um negócio próprio?
JAMS: A empresa foi criada em 1999. A ideia surgiu, numa altura em que trabalhava em minha casa (reparação de televisões), e eu pensei em me estabelecer por conta própria, dado que a minha casa era pequena para o meu trabalho
AS: Teve algum tipo de apoio por parte do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) para a criação desta empresa?

JAMS: Sim, fui apoiado pelo IEFP, na orientação e financeiramente. Informaram-me que tinha de ir ao Centro de formação de Alcoitão prestar provas, para me poder candidatar. Assim fiz em 1997, pois já tinha comprado o meu carro há cerca de 5 meses. Era para lá estar cerca de 2 semanas e fiquei 6 meses, a convite do instrutor (Major Batista). Convidou-me para dar prática aos outros alunos, inclusive a quatro timorenses. Fomos reparando aparelhos de alguns empregados do Centro e guardei o dinheiro, para no fim do exame, no qual tive 18,2 Valores, pagar o almoço a toda a turma. Em 2000 ganhei o premio de mérito (3º Lugar a nível Nacional) pelo centro de emprego, num valor de cerca 3000€.
AS: Quais os produtos ou serviços que a sua empresa oferece?
JAMS: Os nossos serviços consistem na reparação e instalação de equipamentos (TV, LCD, Plasma, Home Cinema, entre outros). Prestamos também serviços técnicos em todas as Marcas, inclusive Marcas brancas. Para informações mais completas, o melhor será visitarem o nosso site: www.digitalvideo.pt
AS: Criou postos de trabalho?
JAMS: Sim, criei três postos de trabalho a tempo inteiro e 2 em Part-Time.
AS: Como foi o seu percurso profissional antes da criação da empresa? Teve dificuldade em integrar-se no mercado de trabalho?
JAMS: Depois do acidente, vi numa revista o curso de eletrónica, e pensei que seria uma coisa que gostaria de fazer no futuro. Ao fim de uns meses de estar a tirar o curso de eletrónica, comecei a reparar pequenos rádios e eletrodomésticos para os vizinhos e conhecidos. Mais tarde pedi a minha mãe para perguntar nas lojas de televisões em Vila Franca de Xira, se precisavam de alguém para reparar aparelhos, e por sorte apareceu, uma loja TVBRAVO, onde estive lá uns meses. Acabei por sair e fazer os serviços para essa loja em minha casa pois era difícil me deslocar-me porque na altura não tinha carro. Isto foi entre 1994 a 1997.
AS: Acha que existe falta de conhecimento da sociedade, e em particular das empresas, sobre as capacidades das pessoas com deficiência e o seu potencial para trabalhar?
JAMS: Sim penso que existe muita falta de conhecimento. Hoje em dia, na era da informática existem muitas possibilidades e áreas para uma pessoa com deficiência ter oportunidade de ocupar um desses cargos. É preciso dar esse conhecimento as empresas. Além disso, as regras de construção devem obrigar logo no início a ter acessos para que mais tarde estejam criadas condições de recrutar qualquer pessoa. Ao termos um acidente como o meu em que a nossa vida dá uma volta de 360º, é importante termos apoio psicológico, bem como uma pasta preparada com todos os contactos de instituições e empresas que nos possam ajudar a nos integrarmos o mais rápido possível. Em 1989 quando tive o acidente senti esta falta.
AS: Que mensagem gostaria de deixar a outras pessoas com mobilidade reduzida que pretendem implementar o seu próprio negócio ou estão à procura de emprego?

JAMS: Que acreditem nelas, nas suas capacidades, que tenham muita força e fé. Gostaria aqui de afirmar que o apoio da família e amigos é muito importante, são a base mas não podem fazer tudo, temos de ser nós a lutar por aquilo que queremos.

Fonte: Associação Salvador

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