Portugal - Como é que uma pessoa com deficiência visual faz um autoteste à covid-19 sozinha? Não faz

Os autotestes à covid-19 não são acessíveis para pessoas cegas ou com baixa visão. A alternativa é recorrer a uma farmácia ou pedir ajuda, porque fazerem o teste sozinhos não é uma opção.


 A solução não teria de passar por criar um autoteste novo – isso “não se justifica”, diz a presidente da Associação de Apoio e Informação a Cegos e Amblíopes.


 No entanto, “seria importante” fazer uma adaptação para que o resultado fosse detetado por outro sentido que não a visão, sugere o presidente
da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal Sempre que Teresa Ribeiro e Rodrigo Santos precisam de fazer um teste à covid-19 deslocam-se a uma farmácia ou a um laboratório.


 Normalmente, os profissionais estão sensibilizados e “ajudam-nos muito”, diz Teresa. Mas, por vezes, debatem-se com “a dificuldade genérica de lidar com uma pessoa com deficiência visual enquanto cliente”, conta Rodrigo: “transmitem informações do género ‘sente-se ali’, sem especificar onde é o ‘ali’”.


 Enquanto centenas de portugueses fazem diariamente autotestes à covid-19 em casa, as pessoas com deficiência visual não têm a mesma facilidade. Em Portugal, os últimos dados disponíveis – referentes ao Censos 2011 – davam conta de 900 mil pessoas com dificuldades em ver, entre as quais 28 mil com cegueira.

Teresa Vaz é presidente da Associação de Apoio e Informação a Cegos e Amblíopes (AAICA) e explica que, da mesma forma que não consegue fazer um teste de gravidez, também não consegue fazer um autoteste à covid-19.

 Quando o faz em casa é com a ajuda de um familiar ou então com uma aplicação que se chama Be My Eyes. No entanto, como tem dificuldade em colocar a zaragatoa no nariz, prefere ir a uma farmácia. Fazer um autoteste sozinha não é, de todo, uma opção: “Se fechar os olhos, o que é que vê? 

Nada. É isso que eu vejo!”. A forma de ultrapassarem esta dificuldade é igual a muitas outras: recorrem a pessoas que veem. Rodrigo Santos, presidente da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), explica que uma das hipóteses é “recorrer a familiares, vizinhos, amigos” ou usar plataformas como o Be My Eyes: “permite encontrar voluntários que, através de um smartphone, descrevem à pessoa cega o que está a ser captado pela sua câmara”. Há ainda quem recorra a “assistentes pessoais, no âmbito dos centros de apoio à vida independente” e a ACAPO também disponibiliza ajuda em algumas delegações do país: “encontramos alguém que possa ajudar a pessoa com deficiência visual a realizar o teste”. Apesar das dificuldades que as pessoas com deficiência visual encontram, não é motivo para não conseguirem ser testadas, diz Teresa Vaz.

 “No século XXI, todos fazemos testes se quisermos, tem a ver com a atitude da pessoa. Se temos mobilidade para sairmos, e se vamos à farmácia comprar medicamentos e gotas para os olhos, também podemos ir fazer um teste”, afirma. Rodrigo Santos também não tem conhecimento de pessoas cegas ou com baixa visão que não façam testes com tanta regularidade por causa dos obstáculos.

 Até porque a testagem nas farmácias contribui para que as pessoas, na dúvida, prefiram fazer o teste lá, tendo garantia de que vai ser bem feito e o resultado fidedigno, adianta.


  “Não se justifica” criar um teste novo, mas adaptação “seria importante”

Se pedirmos ajuda a alguém na farmácia, é suficiente”. Por isso, a presidente da AAICA acha que “não se justifica” criar um autoteste à covid-19 especificamente para pessoas com deficiência visual.

 “É preciso facilitar, em vez de complicar”, simplifica Teresa Vaz. Já Rodrigo Santos, da ACAPO, diz que tudo o que pudesse melhorar a acessibilidade e a autonomia na realização dos testes “seria importante”. Isso não significa criar um novo teste, mas fazer uma adaptação. 

“O teste rápido que dá o resultado através de coloração poderia, por exemplo, despoletar outro tipo de reação que pudesse ser percecionada por um sentido que não a visão – um som ou um aumento de temperatura do recipiente”, sugere.

Por outro lado, também importa explicar como funcionam os testes rápidos, continua o presidente da associação. “Se é fácil para alguém que vê regularmente imagens na televisão sobre como se realizam os testes, imagens que também podem ser vistas nas ilustrações das próprias embalagens, a verdade é que muitas pessoas com deficiência visual nem fazem ideia nenhuma em que consiste um teste rápido, apenas se associa à existência de uma espécie de cotonete, não sendo habitualmente explicado de forma verbal como se faz a recolha, a análise e como se apura o resultado”, conclui.



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