Portugal - Resiliência. “A reação dos hospitais portugueses foi globalmente muito boa, usaram tudo o que tinham”

Projetos Expresso. Pedro Póvoa, do Hospital São Francisco Xavier, elogia a forma como os profissionais e os serviços de saúde conseguiram adaptar-se a uma realidade “de que ninguém estava à espera”.

 Ao longo desta semana, o Expresso publica, com o apoio da Gilead, um conjunto de quatro pequenas entrevistas com especialistas sobre a forma como a pandemia foi enfrentada em Portugal Em janeiro de 2020, quando chegaram as primeiras notícias sobre casos de infeção por SARS-COV2, na China, o mundo “não estava preparado para o que aí vinha”, lembra o diretor da Unidade de Cuidados Intensivos Polivalentes do Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa. Pedro Póvoa diz mesmo que “os planos de contingência inicialmente desenhados eram quase anedóticos para a dimensão que a pandemia tomou”, algo que considera justificado pelo desconhecimento que existia à data. “No nosso caso particular, o Centro Hospitalar Lisboa Oriental só a partir de 9 de março, depois de uma reunião com o Conselho de Administração em que relatei aquilo que colegas e amigos italianos e espanhóis estavam a viver, é que se tomou consciência do que aí vinha”, lembra.

“A partir daí tudo mudou”, afirma. Foi necessário mobilizar todas as equipas do hospital e transformar um dos edifícios num centro médico preparado para lidar com doentes covid.


 O primeiro, recorda, deu entrada a 28 de março. “Tudo se fez num tempo recorde”, diz, aludindo à constituição de equipas de médicos e enfermeiros, à realização de formações, à concretização de empreitadas para adaptar o espaço e ao desenho de protocolos de atuação.


 Vítor Papão, diretor geral da Gilead Sciences, assinala que “todo o caminho teve de ser desbravado, com os hospitais a terem de se adaptar enquanto aplicavam o que aprendiam”. 


Para o líder da farmacêutica em Portugal, “a esta distância é relativamente fácil olhar para trás e ver onde poderíamos ter feito diferente e até melhor”. Ainda assim, para Pedro Póvoa, “a reação dos hospitais portugueses foi globalmente muito boa, usaram tudo o que tinham”


. As consequências da pandemia no Sistema Nacional de Saúde (SNS) e nos doentes, covid e não covid, são hoje claras – de acordo com o Portal da Transparência do Ministério da Saúde, foram adiadas cerca de 1,2 milhões de consultas, 151 mil cirurgias e mais de meio milhão de rastreios ficaram por fazer. Victor Herdeiro, presidente da Administração Central dos Sistemas de Saúde (ACSS), em entrevista recente ao Expresso reconhece o desafio provocado pela covid-19 na prestação de cuidados, mas sublinha que “temos um sistema de saúde muito resiliente que está neste momento muito empenhado em recuperar este atraso”.

 “Estamos a recuperar, já estamos com mais consultas em março de 2021 do que tínhamos em março de 2020”, aponta, revelando que foram realizadas, até ao final de março, mais de 9,5 milhões de consultas médicas – cerca de 1,5 milhão a mais quando comparado com o período homólogo.

 A par com estes números, existem outros pontos em que o desempenho das autoridades, nacionais e europeias, foi positivo. “

A utilização de mecanismos europeus de aquisição de medicamentos foi bem efetuada nos casos do remdesivir e das vacinas, pois permitiu a sua aquisição de forma coordenada e colaborativa em vez de concorrencial”, explica Vítor Papão, que considera que os hospitais estão hoje “mais equipados e preparados para fazer face à covid-19”.

 Contudo, o médico Pedro Póvoa tem uma opinião diferente. “O que se passou em alguns países europeus e em certos períodos da pandemia deveria ter tido uma resposta da UE muito mais ativa e presente”, afirma, acrescentando que o cenário vivido foi “de cada um por si”

. Para o futuro, e de forma a dar corpo a um dos pilares estratégicos da Europa, a resiliência, o especialista que esteve na linha da frente sugere que “a UE deveria repensar, desde já e para a próxima pandemia, nos mecanismos de que necessita para ir ao encontro das necessidades dos países da união”. Ao longo desta semana, entre amanhã e sexta-feira, o Expresso publica, com o apoio da Gilead, um conjunto de quatro pequenas entrevistas a peritos em saúde sobre os impactos da pandemia no SNS, a forma como os doentes covid foram tratados e o que será preciso fazer para garantir uma resposta mais robusta em eventuais crises futuras.

 A primeira entrevista é publicada esta terça-feira, dia 18, com o responsável pelos Cuidados Intensivos Polivalentes do Hospital São Francisco Xavier, Pedro Póvoa.


Fonte da Notícia – Veja Aqui

Comentários